Como é fácil e passageiro tudo
aquilo de trágico a que o tempo e espaço impõem a vida de outro. Quer dizer,
você ouve os relatos, calcula a dor, propõe soluções- “se fosse eu”, mas não
adianta, no corpo do outro houve cegueira e surdez e o que permanece é só o sentimento,
o vazio, pois entre todas as coisas, tantas não são doces como devem ser. E de fato, jamais conseguiremos
reter a dor do outro, o êxtase do primeiro momento de medo e aflição
daqueles dias em que se pode enxergar além do que é visto, sentido e vívido; além
do que é breu, do que é morte, além do que faz falta, além do que é sentir-se
só e afundando.